quarta-feira, 30 de junho de 2010

Oliver Stone diz que Lula não deve confiar nos elogios de Obama

O cineasta veio ao Brasil para lançar o documentário 'Ao Sul da Fronteira', que fala sobre sete presidentes da América Latina. O destaque é para o venezuelano Hugo Chávez, de quem o cineasta é admirador.

* Matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo em 27 de maio de 2010


O cineasta americano Oliver Stone (Platoon, JFK, entre outros) por telefone, de seu escritório, em Los Angeles, Stone falou à folha:

Folha - Como é Chávez?

Oliver Stone - Ele é muito acolhedor e amoroso. As notícias sobre ele nos EUA têm sido muito negativas, porque ele mudou as regras. Fez coisas que nenhum outro, exceto [Fidel] Castro, havia feito. Ele tem feito coisas novas, assim como Néstor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil. Como Cristina Kirchner diz no filme, as pessoas que estão no poder na América do Sul têm o semblante do povo que as elegeu. Hugo Chávez é um soldado e obviamente tem algumas das falhas de um soldado. Lula é um sindicalista e tem algumas das falhas de um sindicalista.
Mas ambos representam uma grande mudança. E eu espero que dê certo. Porque é o desejo de controlar o seu próprio destino, de ser levado a sério, de não ser ignorado.


O filme é pró-Chávez?

Não é pró-Chávez. Apenas mostra honestamente o que ele está fazendo e o que estão dizendo sobre ele. Não é um documentário longo que vai defender tudo, é uma "roadtrip". Se fosse pró-Chávez, ele teria três horas a mais.


O presidente Hugo Chávez tenta controlar a mídia na Venezuela...
[Interrompendo] Não mesmo. 80% da mídia na Venezuela é privada, dirigida por ricos que falam mal do governo. Chávez brigou pela liberdade de expressão. Alguns canais e revistas convocaram greves e chamaram as pessoas para um golpe de Estado em 2002. Em meu país, se você fizer isso, sua licença [de TV] será retirada.


Há relatos de jornalistas sobre a pressão do governo.
Estou falando do que vi e ouvi. O governo respeita a liberdade de imprensa, exceto nos casos em que a mídia desrespeita a lei ou tenta um golpe. Aí as licenças das empresas de comunicação não são renovadas. A maioria das TVs do país é dirigida por lunáticos, caras de direita que perderam seu poder quando Chávez nacionalizou o petróleo. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.

O sr. desaprova algo no governo de Chávez?

Ele comete erros assim como qualquer outro governo do mundo. Mas 75% votaram nele em 2006. Nos EUA, a votação de Obama não chegou nem perto. Você não tem ideia de quão pobre era a Venezuela antes de Chávez. Parte por causa do neoliberalismo praticado, inclusive, no seu país, o Brasil. Washington e o FMI não têm interesse, de coração, nas pessoas. Chávez, Lula, Kirchner, [o boliviano Evo] Morales têm. E pagam o preço sendo criticados por pessoas que têm dinheiro e controlam a mídia.


No filme, Lula diz que só quer ser tratado com igualdade. Ele está sendo?

Por quem?

Por líderes do mundo.


Não. Ele e os outros líderes da América do Sul ainda são ignorados. Eu admiro muito o Lula. Ele fez uma coisa nobre indo ao Irã. Ele está tentando manter a sanidade, manter suas posições. Os americanos e europeus acreditam que podem controlar o mundo. Lula representa uma terceira via, de quem não quer a guerra, um caminho fora dessa loucura. Os EUA costumam dizer que Chávez é a má esquerda e Lula, a boa. Isso é nonsense. Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.


Ele disse que Lula é "o cara".

Eu não confiaria nos EUA. Os americanos sempre jogaram com os brasileiros desde que pudessem controlá-los. Apoiaram o golpe militar no país em 1964. O Brasil sempre esteve no bolso de trás dos EUA, mas agora eles têm que ser mais espertos. Sabem que não podem controlar o Brasil. E Lula é muito importante. Ele se dá com Chávez, com os Kirchner, e com a Colômbia, o Peru e o México, que são aliados dos Estados Unidos.


E Obama?

Nós estamos tentando. Ele é um homem racional, ético, mas faz parte de um grande sistema. Se ele não estivesse lá, estaria John McCain ou Sarah Palin. Você prefere eles? Eu não. Mas, em relação à América Latina, Obama está jogando o mesmo jogo. A reação americana ao golpe em Honduras foi típica.


O sr. vai fazer um documentário sobre o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad?

Não estou pensando nisso no momento. Houve um problema de comunicação. Eu quis fazer o filme, e ele [Ahmadinejad] não quis. Quando ele quis, eu estava fazendo o filme "W", sobre George W. Bush.

(LÍGIA MESQUITA)

Esses são os nossos representantes?



A maioria dos políticos da matéria nem sabem o que assinaram. Preste muita atenção na hora de votar nas eleições.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dunga custa dinheiro à Globo. Simples assim


Redação
Carta Capital

Publicamos ontem a opinião de Juca Kfouri e Carlos Heitor Cony sobre a desavença entre o Dunga e a TV Globo. Agora, os jornalistas Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna falam o que pensam sobre a saia justa entre o técnico e a emissora carioca

Técnico sabe que ‘inimigos’ externos podem motivar qualquer grupo
Por Luiz Carlos Azenha*


O primeiro jogo do Brasil na Copa rendeu 45 pontos no Ibope à TV Globo. Contra a Costa do Marfim, num domingo, foram 41 pontos. A Bandeirantes marcou 10 pontos nas duas ocasiões. Do total de televisores ligados na hora do jogo, 87% estavam sintonizados nas partidas. É menos que no passado, ainda assim uma enormidade. É preciso levar em conta que hoje há outras opções para ver o jogo: emissoras a cabo e via satélite, por exemplo.

Além disso, como muitas pessoas se reúnem para ver as partidas em bares ou em casas de parentes, fica difícil quantificar a audiência exata. Mas o fato é que a Globo ganha em qualquer circunstância: ganha na própria Globo, na SporTv, nas assinaturas de TV a cabo e assim por diante. Portanto, de fato, a Globo não tem nenhum motivo para torcer contra o Brasil. Quanto mais longe for o Brasil, maior o retorno e o lucro.

Onde é que Dunga prejudica a Globo, então? Nos dias e horários em que não há jogo. Para a emissora, a Copa do Mundo era no passado um evento importante para alavancar a audiência de toda a programação. Os jogadores da seleção brasileira costumavam desempenhar o papel de um cast alternativo. O acesso exclusivo aos jogadores e integrantes da comissão técnica garantia aos telejornais audiências bem acima da média durante a Copa do Mundo. A exclusividade no acesso à seleção teria um papel ainda mais crucial este ano. Hoje as pessoas se informam em tempo real através de emissoras de rádio ou da internet e não precisam mais ficar sujeitas à ditadura da programação para obter notícias somente depois das 8 da noite, no Jornal Nacional. A não ser que uma emissora tivesse o monopólio das notícias importantes sobre a seleção, o que deixou de acontecer.

É cedo, obviamente, para fazer qualquer tipo de análise da audiência de TV durante a Copa. Até agora parece não ter havido uma revolução nos números, a não ser durante os jogos do Brasil. Nos últimos dias a Record, por exemplo, tem perdido alguns pontos de audiência aqui ou ali, de acordo com a importância do jogo transmitido pelas rivais. Mas, curiosamente, o Jornal da Record, que compete diretamente com o Jornal Nacional, tem tido números consistentes com a audiência que tinha antes do evento.

Será que o Dunga pensou em prejudicar a Globo ao implantar a isonomia na seleção, ou seja, tratamento igual para iguais? Claro que não. O técnico da seleção brasileira sabe que um fator importante para motivar qualquer grupo é encontrar um ou mais “inimigos” externos. Sabe que é absolutamente essencial passar ao grupo a impressão de que não privilegia este ou aquele jogador, especialmente quando a exposição na TV, durante uma campanha vitoriosa, pode render contratos milionários. Sabe o quanto a ciumeira despertada por um relacionamento “especial” de um jogador com este ou aquele repórter, este ou aquele narrador, pode custar caro ao grupo.

A diferença entre Dunga e a Globo encontra-se no calendário distinto pelo qual ambos se regem: a emissora precisa ganhar tudo agora, comercialmente tem pouco a faturar depois que o Brasil chegar à final; Dunga só irá ao banco descontar o cheque milionário se e quando garantir o título. A Globo precisa de um cast. Dunga precisa de um time. Minha sugestão à emissora do Jardim Botânico é que crie uma seleção cenográfica lá no Projac. Garanto que pouca gente vai notar a diferença.


Dunga dá uma surra na TV Globo: os meninos mimados perderam privilégios
Por Rodrigo Vianna**


A política suicida da Globo parece não ter limites. Primeiro foi na cobertura política. Depois de anos de esforço para superar a marca de emissora golpista e manipuladora (esse esforço se deu na gestão de Evandro Carlos de Andrade como Diretor de Jornalismo, e com a participação ativa de Amauri Soares na sucursal de São Paulo), a Globo mostrou as garras na eleição de 2006. Acompanhei tudo de perto; eu era repórter de política na Globo, e estive no grupo de jornalistas que internamente não aceitaram a linha de cobertura adotada pela emissora. Por causa disso, saí da Globo, e expus meus motivos numa carta interna aos colegas de Redação; carta essa que acabou vazando na internet.


Agora, a direção da Globo empurra a emissora para o suicídio também na cobertura esportiva. A Globo manda no futebol brasileiro. Isso todo mundo sabe. Muitos clubes sobrevivem da grana que a Globo adianta, como pagamento por “direitos de transmissão”. A Globo sempre teve, também, privilégios na cobertura da seleção brasileira. Todo jornalista sabe disso. Aqui na África do Sul, um colega lembrava da Copa da França, em que a Globo tinha uma “salinha” exclusiva para as entrevistas com jogadores. Tudo acertado com a CBF. As outras emissoras esperneavam, e a Globo manobrava nos bastidores. Com habilidade.

Pois bem. A atual direção da Globo resolveu explicitar as coisas. Fez um striptease público. Tudo porque o técnico Dunga decidiu acabar com as “salinhas” da Globo. No domingo, Dunga brigou com o Alex Escobar (comentarista da Globo). O motivo? Escobar queria entrevistas exclusivas com jogadores, e Dunga vetou. O jornalista Mauricio Stycer conta . tudo aqui


No passado, a Globo manobraria nos bastidores, e talvez arrancasse alguma concessão de Dunga. Mas a arrogância (e a burrice) da atual direção da emissora não tem limites. Resolveram fazer um editorial contra o Dunga! É tudo muito didático para o público…

É como se houvesse um menino rico acostumado a comer sempre o primeiro pedaço do bolo nas festinhas da escola. Um dia chega o professor novo e diz: “você pode ser rico, mas aqui tem que pegar fila pra comer o bolo”. O menino rico, em vez de avisar o pai e manobrar em silêncio pela demissão do professor, resolve chorar no meio do pátio, e ainda pendura um manifesto na porta da escola: “eu sou rico, tenho direito ao primeiro pedaço do bolo”.

O menino rico, e mimado, joga a escola inteira contra ele. Talvez consiga a demissão do professor. Mas a comunidade inteira agora sabe que esses privilégios existem.

A Globo conseguiu isso. Na guerra entre Globo e Dunga, o Brasil fica ao lado do técnico.Vejam a enquete do UOL sobre o assunto: o Dunga dá uma surra na Globo.


O povo não aguenta mais a arrogância da Globo. Os Marinho vão pagar caro por ter dado poder a gente como Ratzinger e sua turma.

Mas o Dunga que se cuide. A Globo vai tentar triturá-lo. Diante da primeira derrota, ele será demolido. O Dunga devia bater um papo com o Lula…


*Matéria originalmente publicada no site Vi o mundo
Vi o mundo


**Matéria publicada originalmente no site
O Escrevinhador

Cinema Perto de Você



Governo federal lança programa que oferecerá incentivos fiscais e financiamentos para empresários investirem em salas de projeção audiovisual. Meta é criar 600 novos espaços



Foi lançado na quarta-feira, 23 de junho, no Cine-Teatro do Centro de Convenções de Luziânia (GO), o Cinema Perto de Você - Programa de Expansão do Parque Exibidor. O evento contou com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Cultura, Juca Ferreira, e do diretor-presidente da Ancine/MinC, Manoel Rangel.

Criado para estimular e acelerar a implantação de salas de exibição no País, o Programa Cinema Perto de Você marca uma nova etapa na política pública de fortalecimento do cinema e do audiovisual no Brasil. “O cinema deve ser um ponto de encontro e um local de utilidades múltiplas”, disse o presidente Lula.

Trata-se de um conjunto inédito de mecanismos e ações diversificadas de crédito, investimento e desoneração tributária que incentiva a iniciativa privada e as Prefeituras e Governos estaduais a investir na expansão do parque exibidor, especialmente nas cidades médias do interior e nas zonas urbanas dos grandes centros, que apresentem baixa densidade de salas. O diretor-presidente da Ancine/MinC, Manoel Rangel, lembrou que, em 1997, havia pouco mais de mil salas em todo o Brasil. Para Juca Ferreira, este foi um momento de muita alegria. “A assinatura da medida provisória que cria o programa não é um ato isolado. Desde que chegamos ao MinC, todo nosso esforço tem sido no sentido de produzir um deslocamento do cinema para o interior do país”.

A meta é estimular abertura de 600 novas salas, no período de quatro anos, além do ritmo normal de crescimento apresentado pelo setor. “Vamos convencer prefeitos e estimular empresários a adotar o Programa. Precisamos mostrar a eles que pode ser melhor, por exemplo, abrir um cinema onde há um imóvel sem utilidade pública ao invés de vendê-lo”, lembrou o presidente da República.

Desenvolvido pelo Ministério da Cultura e pela Ancine, e operado em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a ação foi concebida para contemplar especialmente as regiões Norte e Nordeste, mais carentes de salas de exibição, e a nova classe C, estrato social no qual o consumo mais cresce e que já representa mais da metade da população brasileira. “É por isso que o programa Cinema Perto de Você é um passo muito importante para a economia do país”, ressaltou o ministro Juca Ferreira.



Informações do Ministério da Cultura

segunda-feira, 21 de junho de 2010

9ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis



De 19 a 4 de julho, o Teatro Governador Pedro Ivo se torna um templo da sétima arte, com a exibição de filmes do mundo todo e também abrigando ampla discussão sobre produção para o público jovem

Filmes de 14 estados brasileiros e de 10 países irão entreter as crianças de Florianópolis na 9ª Mostra de Cinema Infantil, que começa hoje e vai até 4 de julho. Além da exibição de curtas, médias e longas-metragens, haverá debates, oficinas, shows, bate-papos com atores e diretores, exposições, videoteca, salas de leitura, pitching e muitas outras atrações.

Os destaques são a pré-estreia nacional do longa-metragem Eu e Meu Guarda-chuva, de Toni Vanzolini, e da presença de Arnaldo Antunes para o show de encerramento.

Foram selecionados 73 curtas brasileiros para a Mostra Competitiva deste ano, e haverá ainda as pré-estreias internacionais da ficção indiana Somos Todos Diferentes, de Aamir Khan, da animação alemã O Melhor Amigo da Lua, de Mike Maurus e Thomas Bodenstein; e da animação O Segredo de Kells, de Tomm Moore.

Estão programadas também exibições de curtas do Irã, Índia, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Rússia, França, Bélgica, Holanda e Estados Unidos.

A diretora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, Luiza Lins, aposta na universalização do evento.

– Está cada vez mais internacional, criando diálogo com outras linguagens e culturas e abrindo espaço para curtas inéditos no Brasil – acrescenta Luiza.

Durante 16 dias, o evento vai entreter o público infantil e adulto com a exibição de filmes no Teatro Governador Pedro Ivo, além de promover debates entre alunos, educadores, pesquisadores, cineastas e com o público em geral, no Hotel Majestic.

Como parte da programação, ocorre o 3º Pitching – uma seleção pública de projetos audiovisuais que pretendem habilitar-se a disputar recursos internacionais no Fórum de Financiamento do Buff festival, na Suécia. O filme Eu e Meu Guarda-chuva, por exemplo, foi o vencedor deste prêmio. Exibido nesta edição da Mostra, ele entrará no circuito comercial em outubro.

– O filme ganhou o Pitching de 2008, recebeu um impulso importante no mercado de coproduções internacionais e volta agora para mostrar o resultado no evento que ajudou a abrir portas fora do Brasil. É uma demonstração clara da importância desse mecanismo para inserir os produtores e projetos audiovisuais brasileiros no mercado internacional de financiamento e distribuição – diz Luiza.

No dia 27 de junho será realizado o 6º Encontro Nacional do Cinema Infantil, e no dia 28 o 3º Fórum de Cinema e Educação. O cantor, compositor e poeta Arnaldo Antunes apresentará o show Pequeno Cidadão, em duas sessões em 4 de julho: às 15h e 18h, no Teatro Álvaro de Carvalho. Arnaldo vem acompanhado de sua banda: o guitarrista Edgard Scandurra (ex-Ira!), a tecladista Taciana Barros (ex-Gang 90) e o compositor Antonio Pinto (autor de trilhas sonoras e filho do cartunista Ziraldo).

O júri infantil escolhe qual o Melhor Filme

Neste ano, com a parceria da TV Brasil, a mostra ampliou a premiação dos filmes vencedores. Serão quatro prêmios no valor de R$ 5 mil. As categorias de Melhor Ficção e Melhor Animação serão escolhidas por um júri formado por profissionais de cinema e de educação, composto por Gilka Girardello (UFSC), Arthur Nunes (Animaking), Marco Stroisch (presidente do Funcine) e Igor Pitta (animador). O Melhor Filme será definido pelo júri popular, com votação do público, e o Prêmio Especial será indicado por um júri formado por crianças.

Nos finais de semana, as exibições são abertas ao público em geral; e de segunda a sexta, direcionadas a instituições de ensino. Para os estudantes de escolas públicas, a mostra oferece transporte gratuito até o teatro.

Informações:
Diário Catarinense


www.mostradecinemainfantil.com.br

Memória: Direito de resposta que a justiça concedeu contra a Globo, em pleno Jornal Nacional

Cid Moreira leu uma nota escrita por Leonel Brizola em 15 de março de 1994. O direito de resposta foi concedido a Brizola depois que o Jornal Nacional da TV Globo falou inverdades sobre o líder do PDT, na época.



https://www.youtube.com/watch?v=8hkYW54eV-8




Brizola responde à Globo no Jornal Nacional

A propaganda enganosa e os mitos da carga tributária



Por Artur Henrique*


Um certo tipo de crítica que se faz à carga tributária brasileira esconde propósitos muito egoístas, apesar da aparência patriótica. É uma campanha que tem até painel eletrônico numa rua da capital paulista - o "impostômetro" de uma associação empresarial - e humorista de televisão se fingindo de frentista de posto para vender gasolina mais barata, "sem imposto". Algo que os patrocinadores dessas ações querem de verdade, mas tentam ocultar, é a diminuição dos investimentos do Estado em programas sociais ou em políticas de transferência de renda como o Bolsa Família.


Essa conclusão salta aos olhos diante de um levantamento divulgado recentemente pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Alguns de seus dados contrariam abertamente a mais comum das críticas, a de que o governo federal tem aumentado seus gastos com a folha de pagamento ou com o "inchaço" da máquina.


Em 2002, último ano de FHC, o governo federal gastava 4,8% do PIB (Produto Interno Bruto) com pagamento de pessoal. Em março de 2010, depois da "gastança", do "aparelhamento" e outras imprudências atribuídas ao governo Lula, a folha de pagamento dos servidores consome... 4,8% do PIB. Houve, sim, aumentos salariais e contratações, essenciais para o processo de recomposição do Estado, mas dentro de uma lógica de acompanhamento da arrecadação e do crescimento da economia. Aliás, esses investimentos também funcionam como motivadores do crescimento econômico.


Por outro lado, os programas de transferência de renda, que em 2002 correspondiam a 6,4% do PIB, em março de 2010 saltaram para 9,1% do PIB, o que representa algo em torno de R$ 29,6 bilhões de reais. Esses são os recursos destinados a políticas que demonstram a opção do governo Lula por um modelo de desenvolvimento econômico e principalmente social.


Assim, se a carga tributária fosse simplesmente reduzida, como bradam analistas e empresários, as políticas públicas e sociais estariam entre as mais fortemente atingidas.


Para esses analistas, quando o Estado aplica recursos em programas e projetos para combater a fome, a miséria e diminuir as desigualdades sociais existentes, eles criticam e chamam de política assistencialista. Mas quando o Estado fortalece os bancos públicos, garantindo recursos para os investimentos privados a juros subsidiados por toda a sociedade, aí eles aplaudem.


Outro dado do levantamento desfaz a crença de que o atual governo vem sistematicamente aumentando a carga tributária, enquanto o governo anterior - atualmente na oposição e querendo voltar - era mais comedido. Entre 1998 e 2002, período do segundo mandato FHC, marcado por momentos de forte retração da economia, de desemprego e doação do patrimônio publico, a carga tributária da União subiu 3,32%. Em sete anos de governo Lula, a quantidade de impostos arrecadados pela União subiu 1,02%. Bem menos, e sem vender ou doar nenhuma empresa pública, ao contrário fortaleceu o papel dos bancos públicos, da Petrobrás, da Eletrobrás, etc.


A carga tributária está em torno de 34% do PIB. Mas não se trata de loucura sem paralelo no mundo civilizado, como querem fazer parecer muitos analistas por aí. Essa proporção está na mesma faixa de países como Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha e muito, muito abaixo de nações com forte estrutura de bem estar social, como Suécia e Dinamarca. Sem os impostos, como investir no papel social do Estado, nas políticas públicas?


O debate correto seria discutir a qualidade dos gastos, as prioridades, o orçamento participativo, e outros instrumentos que garantam que o Estado esteja realmente a serviço da maioria da sociedade.


Para os trabalhadores e trabalhadoras, mais importante que a proporção dos impostos em 2relação ao PIB, é chamar a atenção para quem é mais penalizado. Segundo estudo do economista Amir Khair, famílias que ganham até 2 salários mínimos pagam quase 49% de sua renda mensal em impostos. Já os mais favorecidos, que ganham acima de 30 salários mínimos por mês, comprometem 26,3% de sua renda com impostos. Muito menos.


Então, o desafio é alterar essa lógica perversa e criar um modelo tributário progressivo: quem ganha mais, paga mais. Quem ganha menos, paga menos. Voltaremos ao assunto.

* Artur Henrique, presidente nacional da CUT
Publicado em 15/06/2010

Fonte: CUT


CONTEE


Outras reflexões:

O impostômetro e os impostores

Blog do Miro

Memória: Discurso de Lula na ONU

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no Debate Geral da 64ª Assembléia Geral das Nações Unidas.
Data: 23/9/2009
Local: Nova Iorque, EUA

Courtesy TerritorioScuola



Logo nos primeiros dias de seu governo, ou foi um pouco antes da posse (não me recordo bem) quando se referiu a um subsecretário dos EUA como sendo o “sub do sub”, Lula mostrou a que veio.Em seu mandato, o mundo precisaria olhar o Brasil com outros olhos e, mais que isso, precisaria ouvir o que tínhamos a dizer. Se muita coisa ainda precisa ser feita nessa terra, para que possamos deixar de ser o “país do futuro” e possamos passar a ser uma nação presentemente soberana, desenvolvida e igualitária, é inegável que muitos passos foram dados nesses sete últimos anos. O fato de o processo de desmoralização política ter alcançado picos nunca antes vistos ou mesmo sonhados, deve-se mais a uma crise de referenciais ético-sociais vivenciados pela humanidade que a ações de indivíduos isolados, embora também o seja. O que quero dizer com isso é que a corrupção, seja ela de que matiz for, não é nova entre a espécie humana, mas a dócil aceitação dela, sim. É o que Hannah Arendt chama de banalização do mal. Com Lula conduzindo nossa não, chegamos a um índice de orgulho nacional que penso, ser sem precedentes, ou, parafraseando-o, “nunca na história desse país” o povo pôde ser tão orgulhoso de ser brasileiro. Não de forma tão palpável. A soberania é uma realidade inquestionável. Nosso lugar na comunidade internacional não é apenas perceptível, mas também audível. Nisso o ministro Celso Amorim merece ser louvado, dada a sua parcela de contribuição. Problemas existem e, com certeza, existirão sempre. Copa do Mundo e Olimpíadas não resolverão nossos problemas. Certamente até nos trarão outros tantos. Mas passos importantes foram dados, no sentido de superarmos nossas desventuras.
Prof. Fernando Nunes

Assim se desmoralizam as Nações Unidas



Publicado em 11/06/2010

Por Emir Sader


A ONU nasceu, no segundo pós-guerrra, para administrar o mundo conforme os interesses e as visões das potências vencedoras na guerra. Embora aparecesse como um instrumento de democratização nas relações políticas internacionais – de que a existência da Assembléia Geral é a expressão mais direta -, ela reproduziu as relações de poder existentes no mundo, ao depositar em um Conselho de Segurança o poder real da organização.


Composto pelos quatro países vencedores da Segunda Guerra como seus membros permanentes, – EUA, Inglaterra, França, Rússia, aos que se acrescentou a China, ao se tornar potência nuclear a normalizar suas relações com os EUA -, que detêm poder de veto – a que basta um voto contra – sobre qualquer decisão que tome a Assembléia Geral.


Significativas são as decisões anuais de fim do bloqueio norteamericano sobre Cuba e de retirada das tropas israelenses dos territórios palestinos, para que se funde um Estado palestino, que são reiteradamente aprovadas por esmagadora maioria, contra o voto dos EUA, de Israel e de algum país exótico, às vezes. Mas basta o poder de veto dos EUA, para inviabilizar sua aprovação.


Sem ir muito longe no tempo, - quando a ONU foi instrumento das potências ocidentais na guerra fria – recordemos apenas que os EUA e a Inglaterra não conseguiram maioria no Conselho de Segurança para invadir o Iraque, com alegações que rapidamente se revelaram falsas.


Ainda assim essas duas potências invadiram, destruíram o Iraque, onde se encontram até hoje, provocando centenas de milhares de mortos. Que punição adotou a ONU em relação a essa tremenda brutalidade, não apenas por ter sido tomada contra a posição da ONU, mas pelos massacres que produziu e segue produzindo, além da destruição de lugares históricos, da mais antiga civilização do mundo? Nem formalmente tomaram decisão alguma de punição.


É agora essa mesma instituição, - que tem no seu Conselho de Segurança, como membros permanentes, com poder de veto, às maiores potências bélicas, aos maiores fabricantes de armamentos do mundo, aqueles que abastecem a todos os conflitos bélicos existentes no mundo, a que se supõe que a ONU deveria tratar de que não existissem ou que os pacificasse -, aprova punições ao Irã sob suspeita de que esse país poderia chegar a fabricar armamento nuclear. Isso, depois dos governos do Brasil e da Turquia terem conseguido do governo do Irã as exigências que as próprias Nações Unidas haviam solicitado.


Uma instituição que nada faz para punir a Israel, que assumidamente possui armamento nuclear – com que ameaça, regularmente, de bombardear o Irã -, que ofereceu esse armamento à Africa do Sul na época dos governos racistas – conforme provas recentes de um livro, que publica documentos que deixam claro esse oferecimento, que ocupa violentamente os territórios palestinos. Não faz e atende as demandas de Israel de que o Irã seja punido.


Uma decisão promovida pela maior potência bélica da história da humanidade, que possui bases militares em mais de 150 países, que foi o único pais que atirou bombas atômicas sobre outro – em Hiroshima e Nagasaki -, matando milhões de pessoas, que tem um histórico de agressões, invasões – como até hoje ocorre também no Afeganistão, com aprovação da ONU -, de golpes militares, de assassinatos de mandatários de países estrangeiros, de guerras, invasões e ocupações de outros países.


Essa instituição, hegemonizada por essa potência, aprovou sanções contra o Irã, depois de deixar impune a todos os atos de agressão militar dos EUA, cujo arsenal de guerra não deixa de se aperfeiçoar e se multiplicar. O que esperar de uma instituição assim, controlada pelas potências que protagonizaram as grandes guerras e seguem com seu papel imperialista, contra a grande maioria dos países do mundo? Por que não submetem essa decisão à Assembléia Geral, para constatar a reação de todos os governos do mundo, vítimas da dominação imperial dessas potências bélicas que, como disse Lula, necessitam inimigos, a quem diabolizar, para tentar evitar que sejam elas mesmas julgadas e condenadas como as maiores responsáveis pelas guerras que ainda assolam o mundo, fomentadas por elas mesmas.




Fonte: Blog do Emir

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Defesa da Nova Lei da Comunicação na Argentina

Marcha pela Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual



Marcha por la plena vigencia de Ley de Medios en Argentina

Argentinos defendem implementação da Nova Lei da Comunicação no país

Confira as mobilizações na Argentina:



Milhares de pessoas se manifestaram na capital da Argentina, Buenos Aires, em defesa da implementação imediata da
Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual (SCA). A legislação, considerada muito avançada, foi sancionada no dia 10 de outubro do ano passado, mas uma
liminar a suspendeu. O lema da marcha foi defender a democracia é defender suas leis.


Fonte: Boletim NPC

Justiça argentina revoga suspensão da polêmica lei de comunicação

16/06/2010 |
Redação*
Portal Vermelho


A Corte Suprema da Argentina revogou, nesta terça (15), por unanimidade, uma medida cautelar da Justiça provincial de Mendoza que suspendia a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, criada para substituir uma norma da época da ditadura militar (1976-1983).

Dessa maneira, os sete juízes anularam a resolução provisória demandada pelo deputado opositor Enrique Thomas. Na interpretação da Corte, Thomas "não tem legitimidade para reeditar na Justiça um debate que perdeu no Congresso".

A presidente argentina, Cristina Kirchner, se disse "muito contente" com a sentença e salientou que "o sistema jurídico honrou o seu funcionamento". "Estou contente porque foi restabelecida a autoridade do Parlamento argentino na sanção dessa lei", indicou a presidente.

De acordo com Cristina, o objetivo da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual é diversificar a utilização dos sinais de rádio e televisão. A oposição, por sua vez, alega que a medida pode representar o controle total da "imprensa independente".

De acordo com a agência estatal Télam, "fontes vinculadas ao processo assinalaram que a decisão da Corte constitui 'uma mensagem para os que governam com medidas cautelares'".

Na sentença desta terça-feira, a Corte Suprema ressaltou que uma decisão provisória "que suspende a vigência da totalidade de uma lei com efeitos para toda a população é incompatível com a divisão de poderes e a racionalidade".

Apresentada pelo governo em agosto de 2009 e aprovada em outubro de 2009 pelo senado, a medida proíbe que os donos dos canais de TV aberta possuam também TV a cabo na mesma zona geográfica de transmissão, reduz quase pela metade o número de licenças permitidas para cada grupo de comunicação e submete as concessões à análise do governo a cada dois anos.

*com Ansa.

Audiência pública sobre a Confecom

foto I Confecom: Arthur Lobato

Hoje, dia 16 de junho, às 15 horas serão debatidos em Audiência pública os encaminhamentos da I Conferência Nacional de Comunicação.


Local:
Plenarinho 1 da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Rua Rodrigues Caldas,30 - Bairro Santo Agostinho
Belo Horizonte - MG - Brasil - Telefone (31) 2108 7715

A Confecom foi realizada entre os dias 14 e 17 de dezembro de 2009 e debateu propostas sugeridas nas conferências estaduais, ocorridas no mesmo ano. Na Conferência Nacional, foram discutidas questões relativas à criação de políticas públicas para o setor de comunicação.

Mais de 600 propostas foram aprovadas, entre elas, a defesa do diploma para o exercício da profissão de jornalista, a criação do Conselho Federal dos Jornalistas e dos Conselhos de Comunicação (nas esferas federal, estaduais e municipais), e a criação de uma nova Lei de Imprensa.

Pela primeira vez, reuniram-se representantes do Governo Federal, de outros setores do poder público, da sociedade civil e de segmentos do setor empresarial, para tratar de assuntos dessa natureza.

Convidados :
O procurador-geral da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e presidente da Comissão Organizadora da I Conferência Nacional de Comunicação, Marcelo Bechara; o subsecretário de Comunicação Social do Governo do Estado de Minas Gerais, Sérgio Esser; o presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Antônio Carlos Valente; o presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCcom), Edivaldo Amorim Farias; o presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), Amilcare Dallevo Júnior; o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, Aloísio Morais Martins; e o jornalista da Rede Record e coordenador do Blog Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim.


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terça-feira, 15 de junho de 2010

Como transformar propostas em ações

Venício A. de Lima
Observatório da Imprensa
15/06/2010



Há algumas semanas comentei neste Observatório em relação às centenas de propostas aprovadas na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) que, historicamente, entre nós, tem sido assim: na hora de transformar proposta em ação, os atores que de facto são determinantes na formulação das políticas públicas do setor de comunicações mostram o tamanho de sua força e os "não-atores" acabam, como sempre, excluídos . (ver "Confecom – O que foi feito de suas propostas?")

O primeiro passo para impedir que essa tradição seja mais uma vez confirmada foi dado em audiência pública realizada na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados na quinta-feira (10/6), atendendo a requerimento da deputada Luiza Erundina (PSB-SP).

Caderno oficial

Seis meses depois da realização da Confecom, finalmente temos um caderno oficial, publicado pelo Ministério das Comunicações e editado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. As propostas aprovadas – 633, 641 ou 665? – estão sendo organizadas em torno de cinco eixos: marco regulatório; regulamentação do artigo 221 da Constituição federal; direitos autorais; marco civil da internet e regulação da televisão pública (disponível aqui).

Por outro lado, relatório final de subcomissão criada na Câmara mostra que cerca de 35% (222 propostas) das 641 (?) propostas aprovadas na Confecom implicam alguma forma de ação legislativa no Congresso Nacional. Desse percentual, dois terços (ou 148) já é alvo de alguma ação (projeto de lei e/ou estudo legislativo), na Câmara ou no Senado. Uma relação desses projetos e ações agrupados em torno de nove temas – direitos humanos e de minorias; controle social da mídia; radiodifusão pública; produção nacional; convergência digital; conteúdo de interesse social; educação profissional; ética no jornalismo; proibição de monopólios e oligopólios pode ser encontrada aqui.

Ações concretas, só no futuro

Na audiência pública, o ministro Franklin Martins, da Secom, deixou claro que, do ponto de vista do governo, não há possibilidade de implementação de qualquer das propostas ainda em 2010 – e descartou, em particular, o Conselho Nacional de Comunicação (CNC).

A proposta do CNC, como se sabe, foi aprovada por unanimidade e tem sido considerada prioritária por todas as organizações e movimentos sociais – os "não-atores" – que participaram do processo da conferência.

Já a deputada Luiza Erundina informou que está sendo criada na Câmara uma Frente Parlamentar para dar encaminhamento e apoio às propostas. Quanto às organizações e movimentos sociais da sociedade civil, está sendo organizado, para julho, um seminário nacional que deverá, entre outras ações, criar uma lista de prioridades das propostas aprovadas na conferência.

O que esperar?

Não são novidade para ninguém as imensas dificuldades de regulação das comunicações em nosso país. Ao contrário de outros países da América Latina, por aqui os poucos avanços, quando ocorrem, são pequenos e lentos.

Registro como positiva a realização da audiência pública na Câmara dos Deputados, mas repito que sem pressão da sociedade organizada que luta pelo reconhecimento do direito à comunicação, nem o Executivo, nem o Legislativo respeitarão o resultado da Confecom.

Publicado em: www.observatoriodaimprensa.com.br

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Resoluções da 1ª Confecom são debatidas em audiência na CCTI

As resoluções da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) foram debatidas em audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática nesta quinta-feira (10/06). O Plano Nacional de Banda Larga, divulgado pelo governo em maio, foi o ponto mais polêmicos dos debates. Embora representantes do governo destacassem que algumas das resoluções da Confecom já estão sendo implementadas, os movimentos sociais querem que este processo seja acelerado.

Na audiência, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins, disse que as 672 propostas aprovadas na 1ª Confecom estão sendo examinadas para que sejam identificadas quais delas implicam em mudanças no marco legal da comunicação no país. Muitas das propostas aprovadas na Conferência remetem à regulamentação do artigo 221 da Constituição, que estabelece princípios para a comunicação eletrônica, como o estímulo à produção de conteúdo independente e a regionalização da produção. Segundo Martins, após essa análise o governo encaminhará recomendações para o Congresso Nacional.

O ministro lembrou que a instituição do marco regulatório civil da internet e a ampliação do acesso da banda larga também foram mencionadas em grande parte das diretrizes aprovadas na conferência. E teve o reforço do procurador-geral da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Marcelo Bechara, que coordenou o processo da 1ª Confecom e reafirmou que o governo já está implementando algumas diretrizes, como o Plano Nacional de Banda Larga e o marco regulatório civil na internet, que estava em consulta pública até 2 de junho e cujo anteprojeto de lei deve ser encaminhado ao Congresso Nacional ainda em 2010.

No embalo da temática, o superintendente-executivo da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Cesar Rômulo Silveira Neto, cutucou o governo ao afirmar que o setor de telecomunicações vive a situação peculiar de implementar proposta rejeitada na 1ª Confecom. Referia-se ao movimento do governo de fortalecer a Telebrás para fornecer serviços de telecomunicações e coordenar a criação de infraestrutura pública para oferta de internet de banda larga.

Para Roseli Goffman, da Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a participação da Telebrás no Programa Nacional de Banda Larga é de interesse do Estado e da sociedade brasileira. Segundo ela, a proposta rejeitada na Confecom foi apresentada por movimentos sociais ligados à democratização das comunicações. A rejeição ocorreu porque a bancada empresarial presente na Conferência votou em bloco contra a proposta. A representante do FNDC também defendeu a aprovação, pelo Congresso Nacional, de lei que permita a utilização do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust) no programa de banda larga.

Outros temas abordados na audiência na CCTI foram o Projeto de Lei 29/07, que abre o mercado de televisão a cabo para as concessionárias de telefonia fixa e institui cotas de conteúdo nacional e independente na TV por assinatura, que tem apoio do governo, a instituição de novas regras para as rádios comunitárias, a instalação do Conselho de Comunicação Social (CCS) pelo Senado, a proibição de concessões de rádio e TV a detentores de cargos públicos, a adoção de mecanismos de participação social na formulação de políticas públicas para o setor, a adoção de uma Lei Geral da Radiodifusão e a regulamentação do artigo 220 da Constituição, que proíbe o monopólio dos meios de comunicação.

Redação
FENAJ - Federação Nacional dos Jornalistas
*com informações da Agência Câmara.

Audio da Reunião Ordinária de Audência Pública

Internet vs. Mídia tradicional: mudança sem retorno

Pesquisa revela que 83% dos consumidores de mídia no Brasil produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede.

Venício Lima
Para Carta Maior em 21/05/2009

Duas pesquisas divulgadas recentemente mostram, de forma inequívoca, a dimensão das mudanças que estão ocorrendo no “consumo” de mídia, tanto no Brasil como no mundo. Elas são tão rápidas e com implicações tão profundas que, às vezes, provocam reações inconformadas de empresários e/ou autoridades que revelam sérias dificuldades para compreender ou aceitar o que de fato está acontecendo no setor de comunicações.

Internet supera TV

A primeira dessas pesquisas é “O Futuro da Mídia” desenvolvida pela Deloitte e pelo Harrison Group. A Deloitte é a marca sob a qual profissionais que atuam em diferentes firmas em todo o mundo colaboram para oferecer serviços de auditoria e consultoria. Essas firmas são membros da Deloitte Touche Tohmatsu, uma verein (associação) estabelecida na Suíça. Já o Harrison Group é uma consultoria independente com sede nos EUA.

A pesquisa, realizada simultaneamente nos EUA, na Alemanha, na Inglaterra, no Japão e no Brasil, identificou como pessoas entre 14 e 75 anos “consomem” mídia hoje e o que esperam da mídia no futuro. A coleta de dados foi feita entre 17 de setembro e 20 de outubro de 2008 e a amostra foi dividida em quatro grupos de faixas etárias: a “Geração Y”, com idade entre 14 e 25 anos; a “Geração X”, que tem entre 26 e 42 anos; a “Geração Baby Boom”, formada por pessoas entre 43 e 61 anos; e a “Geração Madura”, que compreende os consumidores entre 62 e 75 anos. No Brasil, foram ouvidas 1.022 pessoas, classificadas nas quatro faixas etárias.

Vale a pena transcrever o que a própria Deloitte relata sobre alguns dos resultados referentes ao Brasil (cf. Deloitte, Mundo Corporativo n. 24, abril/junho 2009).
http://www.deloitte.com/view/pt_BR/br/nossaempresa/index.htm

O levantamento mostra que o Brasil, com um mercado formado essencialmente por um público jovem é, dos cinco países participantes da pesquisa, aquele em que os consumidores gastam mais tempo por semana consumindo informações ofertadas pelos mais variados meios de comunicação e se mostram especialmente envolvidos com atividades on-line. Os consumidores brasileiros gastam 82 horas por semana interagindo com diversos tipos de mídia, incluindo o celular. Para a grande maioria (81%), o computador superou a televisão como fonte de entretenimento. Os videogames e os jogos de computador constituem importantes formas de diversão para 58% dos entrevistados. (...)

Uma das principais informações reveladas é que o usuário quer participar, interferir. De acordo com as entrevistas realizadas com o público nacional, 83% dos consumidores de mídia produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede. Quanto mais jovem, mais propenso a produzir seu próprio conteúdo on-line.

Um dado extremamente revelador é que assistir à televisão é a fonte de entretenimento preferida pelos entrevistados de todos os países participantes da pesquisa, com exceção do Brasil. Entre nós, a TV aparece em terceiro lugar, as revistas em sétimo, o rádio em nono e os jornais em décimo.

O quadro (adaptado) abaixo revela as preferências brasileiras.

Fontes de entretenimento favoritas - Brasil

1º - Assistir a filmes em casa (não inclui filmes na TV) .........55 %
2º - Navegar na internet por interesses pessoais ou sociais....53 %
3º - Assistir à televisão .......................................................46 %
4º - Ouvir música (usando qualquer dispositivo ...................36 %
5º - Ir ao cinema ................................................. ...............30 %
6º - Ler livros (impressos ou on-line) ....................................25 %
7º - Ler revistas (impressas ou on-line) .................................16 %
8º - Jogar videogames ou jogos de computador .....................14 %
9º - Ouvir rádio ...................................................................13 %
10º - Ler jornais (impressos ou on-line) .................................12 %
.
Para um país acostumado – há décadas – à hegemonia não só da televisão, mas de uma única rede de TV, esses dados não deixam de ser surpreendentes.

Participação ativa
Já a vontade majoritária de participar e interferir na construção do conteúdo, revelada pelos entrevistados brasileiros, acaba de vez com a idéia do obtuso “Homer Simpson” (cf. L. Leal Filho, “De Bonner para Homer”, Carta Capital, 7/12/2005) e com o mito da passividade dos nossos leitores, ouvintes e telespectadores.

Mais do que isso, os dados colidem frontalmente com as práticas históricas dos principais grupos de mídia brasileiros que, salvo raras exceções, sequer admitem a existência de ouvidorias ou de ombudsman em suas empresas.

A supremacia das redes sociais
A pesquisa Deloitte/Harrison faz referencia a outra pesquisa divulgada em junho de 2008 pelo Ibope/Net Ratings sobre o surgimento das “redes sociais virtuais”, ou seja, os sites de relacionamento que reúnem internautas com os mesmos interesses. Segundo esta pesquisa, 18,5 milhões de pessoas haviam navegado neste tipo de site em maio de 2008. Se somados os fotologs, videologs e programas de mensagens instantâneas, o número salta para 20,6 milhões.

Pois bem. No painel de abertura do 8º Tela Viva Móvel, dia 20/5, em São Paulo, o gerente de conteúdo e aplicações da Oi, Gustavo Alvim, informa que as redes sociais já desempenham papel mais importante que o acesso a emails no cenário da internet mundial. Em média, enquanto 65,1% dos usuários mundiais de internet acessam emails, 66,8% acessam redes sociais. "E o Brasil é o líder absoluto em redes sociais, com 85% de seus internautas que acessam pelo menos uma rede social".

Os dados vêm confirmar a aplicabilidade da hipótese do “long tail” (Chris Anderson) à “cultura convergente” – como faz Henry Jenkins – e, particularmente, reafirmar a tendência já prevalente da contextualização, análise e organização capilar de conteúdos, inclusive os jornalísticos, em sites e blogs, deixando para trás os velhos modelos dos jornais impressos diários.

“Pendurados na internet”

Diante desses dados – e das importantes transformações que sinalizam – é que se deve compreender a recente declaração do senhor ministro das Comunicações na abertura do 25º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, no dia 19/5, em Brasília.

Segundo relata Mariana Mazza do Televiva News, depois de fazer uma vigorosa defesa da radiodifusão e registrar o abismo entre o faturamento da radiodifusão e das telecomunicações – "o setor de comunicação fatura R$ 110 bilhões por ano. Desse total, somente R$ 1 bilhão é do rádio e R$ 12 bilhões das TVs. O resto vocês sabem muito bem onde está" –, o ministro sugeriu que os jovens devem usar menos a internet e assistir mais programas de TV e de rádio. "Essa juventude tem que parar de só ficar pendurada na internet. Tem que assistir mais rádio e televisão".

Ao que parece o senhor ministro – e os radiodifusores que ele tão bem representa – estão realmente perdendo o “bonde da história”.


* Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.

DEBATE ABERTO
Carta Maior

terça-feira, 8 de junho de 2010

Frei Betto e os "oráculos da verdade"


Artigo de Frei Betto, publicado no jornal Correio Braziliense:

O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos (O que é o Iluminismo?) sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos oráculos da verdade: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.

Esses, os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.

São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.

São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.

É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, gado doméstico, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.

Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam: Não pensem! Obedeçam! Paguem! Creiam! O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: Não pensem! Gastem!

Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a um rebanho de animais tímidos e industriosos, livres da preocupação de pensar.

O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. Consumo, logo existo, eis o princípio da lógica pós-moderna.

Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo.

Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.

Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.

A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o do vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurado por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.

A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.

Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Essa, a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.

*Frei Betto é um dos mais importantes e reconhecidos intelectuais brasileiros. Escreveu quase 50 títulos diferentes, entre romances, ensaios e artigos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Imprensa não torce



Paulo Vinicus Coelho

Técnico e atletas acreditam que uma das missões dos jornalistas é ajudar a seleção. Estão enganados

JORNALISTA NENHUM vai à Copa do Mundo para cobrir seu próprio umbigo, ou seja, ninguém viaja para falar da própria imprensa. Para discuti-la, já existem sites e programas suficientes, como o Comunique-se e o "Observatório da Imprensa".

Mas a semana em Johanesburgo registrou tantas confusões sobre o correto papel dos jornalistas que exige uma reflexão. Já na primeira pergunta, da primeira entrevista coletiva, a apresentadora da TV Record Mylena Ciribelli errou na medida: "Queria dizer que, antes de jornalistas, somos torcedores do Brasil", afirmou. Nem ela está certa nem o técnico da seleção, ao dizer que há 300 jornalistas torcendo contra o Brasil.

Cada frase mal formulada, por quem tem por ofício usar as palavras, aumenta o tamanho da bagunça mental de quem joga o Mundial.

Os jogadores e o técnico acham mesmo que uma das missões da imprensa é ajudar a seleção. Não é.

"Eu conheço muitos jornalistas que torcem a favor", disse Kaká, na sexta-feira. Mais uma confusão. Jornalista nenhum deve ir à Copa para torcer, nem contra nem a favor de seleção nenhuma.

Não quer dizer que se esteja proibido de socar o ar na hora do gol. Quer dizer que os jogadores e a comissão técnica deveriam entender que uma notícia não deixará de ser publicada, nenhuma crítica deixará de ser feita, mesmo que provoque um terremoto na concentração brasileira. O tempo dirá se a avaliação foi correta ou equivocada.

No exercício de sua profissão, jornalista não tem time, não tem amigo nem inimigo. Seu gol é a notícia. Gol contra é informação errada. Nesse caso, é preciso corrigir rápido e, mesmo assim, a seleção terá razão em brigar, espernear, processar.

Mas não diga que os jornalistas não notaram a educação dos zimbabuanos só porque preferiram o enfoque político, por jogar na terra do ditador Mugabe. A muitos, isso pareceu mais relevante.

Como nos dias de blogs e portais todo mundo é jornalista ou pensa que é, Dunga também esteve do outro lado do balcão. Foi comentarista da TV Bandeirantes, em 2006. Pois na quinta, ao dizer que a imprensa foi quem disse primeiro que Weggis foi uma balbúrdia, foi questionado sobre a sua opinião. Respondeu que não ia aos treinos e só comentava jogos no estúdio ou no estádio.

De fato, a rotina dos comentaristas de TV exige muito tempo no Centro de Imprensa. Mas ir à Copa e não ver nenhum treino? Dunga não entende mesmo o papel dos jornalistas.

*pvc@uol.com.br
06/06/2010
Folha de S. Paulo

Comissão avalia desdobramentos da conferência de comunicação


A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática realiza nesta quinta-feira (10) audiência pública para debater a implementação das propostas aprovadas pela 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro do ano passado.

A iniciativa partiu da deputada Luiza Erundina (PSB-SP). Ela pretende avaliar com os vários segmentos os desdobramentos da Confecom, que aprovou 672 resoluções resultantes de debates sobre o direito à comunicação. Segundo a deputada, a efetivação de muitas dessas resoluções dependerá de iniciativas dos poderes Executivo ou Legislativo.

Foram convidados:

- o ministro das Comunicações, José Artur Filardi Leite;

- o ministro da Cultura, João Luiz Silva Ferreira;

- o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins;

- o assessor especial da Casa Civil da Presidência da República André Barbosa;

- o presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Antônio Carlos Valente da Silva;

- o presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), Amilcare Dallevo Júnior;

- o coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Schröder;

- o diretor do Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes), Jonas Valente;

- a presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), Regina Lima;

- o coordenador-executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), José Luiz Nascimento Sóter;

- o presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (Abccom), Edivaldo Farias;

- o coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert), Nascimento Silva.

A audiência será realizada às 9h30 no plenário 13.


07/06/2010
Redação
Câmara dos Deputados

sábado, 5 de junho de 2010

Dica de Cinema: Mary e Max


Mary e Max - Uma amizade diferente (Mary and Max, Austrália, 2009)

Animação do premiado roteirista e diretor Adam Elliot sobre uma inusitada amizade entre uma menina australiana de 8 anos, Mary Dinkle, e um quarentão, Max Horovitz, que vive em Nova York. O sentimento de inadequação une os dois, que acham o mundo intrigante e incompreensível. Durante anos, eles trocam idéias sobre vários assuntos como amizade, autismo, alcoolismo, origem dos bebês, obesidade, cleptomania, diferença sexual, confiança e diferenças religiosas. A voz de Mary quando criança é da atriz Bethany Whitmore e, quando adulta, da estrela Toni Collette. Max, por sua vez, é dublado por Philip Seymour Hoffman. Em 2004, Adam recebeu o Oscar de Melhor Curta de animação por "Harvie Krumpet", história de um solitário imigrante polonês. O curta levou o prêmio de Melhor Filme escolhido pelo público brasileiro, no Festival Anima Mundi, no mesmo ano.

Boff: A saudade do servo na velha diplomacia brasileira



por Leonardo Boff,

O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do oprimido. Com humor comentou Frei Betto: “em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”.

Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor mas o cidadão livre.

Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.

O Globo fala em “suicídio diplomático”(24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império” pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.

As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico.

Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.

O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .

O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros.

E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado.

Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata.

Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula. A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula.

Leonardo Boff é Teólogo e autor de Nossa ressurreição na morte, Vozes 2007